Mais uma vez a floresta amazônica é manchada com sangue de seus defensores. Agora foi a vez de José Cláudio Ribeiro da Silva, conhecido como Zé Castanha, e sua esposa, Maria do Espírito Santo. Foram covardemente assassinados na terça-feira, 24/05 no assentamento Praia Alta da Piranheira. O casal que vivia da extração de castanhas ficou conhecido pelas denúncias contra madeireiras e carvoarias que depredavam o ecossistema da região.
Foi mais um crime da morte anunciada, pois, em recente evento gravado em vídeo, Zé Castanha fez um último alerta sobre as ameaças que vinha recebendo. Lembrou os destinos de Chico Mendes, Padre Josimo e Irmã Dorothy, entre tantos outros mártires, prevendo que sua estória poderia ser a mesma.
Que o extermínio de defensores da floresta tornou-se comum no Brasil, não há dúvida, porém, o que mais nos assusta foi a atitude da bancada ruralista na Câmara dos Deputados que lá estava para a votação do novo Código Florestal. Ao ouvir a notícia do crime pelo Deputado Sarney Filho, ruralistas nas galerias e deputados do agro-negócio no plenário, emitiram uma estrondosa vaia ao casal recém morto.
Fico estarrecido e indignado com a atitude desses parlamentares que são pagos com dinheiro público para defender a sociedade. A execução brutal foi planejada nos mínimos detalhes: os assassinos danificaram uma ponte onde o casal teria que passar e armaram a emboscada. Zé Cláudio desceu para verificar os estragos e ali mesmo foi fuzilado. Sua mulher foi executada dentro do carro, os dois não tiveram a mínima chance de se defenderem. Uma das orelhas de Zé Cláudio foi arrancada e levada como prova de que o “trabalho” havia sido executado. O bandeirante Domingos Jorge Velho cortou e salgou 13 mil pares de orelhas como prova da destruição do Quilombo dos Palmares. Parece que a prática ainda vigente nas regiões onde o Brasil ainda vive no sistema feudal,como é o caso da floresta amazônica.
Os dois viviam em Nova Ipixuna há 24 anos, em um terreno de 20 hectares no Projeto de Assentamento Agroextrativista (Paex) Praialta- Piranheira, às margens do lago de Tucuruí. Extraíam óleo de andiroba e castanha. Em palestra em novembro, no evento TEDx Amazônia, Zé Claudio denunciava o desmate. "É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos da idade, vivo da floresta e protejo ela de todo jeito. Por isso, vivo com a bala na cabeça, a qualquer hora". Gilberto Carvalho, Secretário-Geral da Presidência relatou o ocorrido à presidente Dilma Rousseff e ela determinou ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que a Polícia Federal apure o assassinato dos sindicalistas.
O Evangelho de Lucas 19,40 diz: "não podemos nos calar diante desta barbárie, pois se nos calarmos, as florestas falarão".
Nenhum comentário:
Postar um comentário