Amauri Queiroz

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Brasil e Copa da África


O Brasil não ganhou a Copa do Mundo da África. Tragédia nacional. Assim que o juiz apitou o fim do jogo com a Holanda, que decretou o regresso do escrete canarinho mais cedo para o Brasil, consegui ver homenzarrões com olhos marejados, vermelhos, demonstrando um sofrimento ímpar...uma não merecida melancolia...afinal, o brasileiro não desiste nunca.

Mathias, meu amigo grandalhão, já mergulhado no copo de Vemuth, bradava aos quatro ventos que o futebol para ele havia acabado naquele momento. Torcedor histórico do valente Atlético Mineiro, Mathias jurava para que pudesse ouvir que nunca mais adentraria em um estádio de futebol.

Paulo, cujo apelido é “Pelé da Copa de 58”, pela semelhança, havia comprado três caixas de morteiros 12 x 1 da Caramuru, para festejar o Hexa. Sem ter o que fazer com os morteiros, Paulo, crioulo liso, tomou uma passando a régua e foi pro seu cafofo chorar as mágoas com a dona Juraci.

Aloísio, técnico do time amador da cidade, clamava por justiça. Não conseguia compreender o esquema montado por Dunga. “A seleção tava toda “torta”, urrava. Time torto não ganha jogo!!!!!” Quanto mais lamentava mais se lembrava de Telê Santana e sentenciava: “o futebol acabou”, agora são as empresas é o tal marketing é quem manda nos esportes.”

Saudosista, Costela lamentava as ausências de Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos e Adriano. Repudiava a escalação de inúmeros “cavalos paraguaios” levados por Dunga e que colaboraram com o naufrágio da seleção.

Cambraia, zagueirão de primeira na juventude, beque parado dos bons, se embriagava com cerveja e emoção. Torcedor contido, mas de um fervor inigualável, Cambraia estava à beira de um infarto. Girava em torno de si mesmo como se tentando encontrar uma resposta para a tragédia, só comparável àquela de 50 que os uruguaios chamam de “maracanazzo”. Cambraia ainda jovem, quase morreu quando Giggia avançou pela direita e bateu o goleiro Barbosa, cravando 2 x1 no placar do novíssimo Maracanã, selando uma derrota que calou por inteiro uma nação em festa.

As crianças, coitadas. Não sabiam bem o que fazer. Estavam prontas para fazerem grandes farras com a conquista do Hexa. Convencidas pela mídia que nosso plantel era imbatível, uniram-se em mutirões para decorarem as ruas e exigiram dos pais camisas da seleção, que nem precisavam ser originais. Bastavam estampar o símbolo da CBF e as cinco orgulhosas estrelas vibrando no peito. Foi um baque. Criança não pode encher a cara como o Cambraia e nem ficar xingando à torto e à direita como o Gordo da borracharia. Como pequenos pintainhos foram se recolhendo para as asas da galinha no entardecer, meio sem direção e ainda tentando entender o porquê de holandeses tão sem ginga e rebolado, vencerem nossos gladiadores do hexa.

Como sempre, o treinador pagará o pato pela derrota. No Brasil geralmente evita-se o erro coletivo, faz parte da cultura africana e indígena. Sai o Dunga e tudo estará resolvido. Mais uma vez teremos outro combate titânico. Desta vez a copa será no Brasil. Outro “maracanazzo” ??? Nem pensar!!!! Mas como fazer se Espanha, Holanda e Alemanha estão jogando como sul-americanos e nós, brasileiros, tentando imitar o duro futebol bretão???


A resposta deixo para Freud, ou Hamlet. Ou então para meu amigo Tupamaro que costuma conversar através de provérbios e ditos populares: “Futebol é bola na rede...quem não faz, leva.”

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