pois sei que vão arrancá-las da floresta”.
(Chico Mendes)
O trabalhador rural Marcos Gomes da Silva, 33 anos, foi morto a tiros numa emboscada em Eldorado do Carajás, mesma cidade onde ocorreu, em 1996, o massacre de 19 sem-terra. O agricultor levou um tiro no abdômen no acampamento Nova Sapucaia, onde morava com a família. Mais tarde, enquanto recebia socorro, Marcos foi atacado novamente por seus algozes, tendo sido degolado e a orelha arrancada.
Eldorado dos Carajás fica no sudeste do Pará, na mesma região de Nova Ipixuna, onde o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foi morto em 24 de maio. Zé Castanha, como Marcos Silva, também teve sua orelha arrancada. Nas últimas semanas, quatro ativistas que atuam na Amazônia foram mortos e o governo reconheceu não ter instrumentos e condições para garantir a segurança de todos os líderes que correm riscos.
Em qual Brasil vivemos? O Brasil que vai construir o trem bala ou o Brasil que assassina os ecologistas que defendem a preservação da floresta amazônica. A situação se parece com o romance gótico da escritora londrina Mary Shelley, que narra a saga de Victor Frankenstein, um jovem aristocrata suíço, apaixonado pela alquimia e ciências naturais da época. Infatigável, busca o milagre da criação. Victor consegue construir uma criatura humana grotesca, que comete os crimes mais terríveis, levado pela amargura da rejeição humana.
O Brasil tem alguns contornos da criatura imaginada por Mary Shelley. Formado por grotescas e sóbrias assimetrias, que trafegam de um lado entre a escravidão de indígenas e africanos, analfabetismo, falta de saneamento básico, saúde pública caótica, homofobia, alcoolismo, narcotráfico, machismo e de outro lado por uma elite aristocrática somente comparada financeiramente aos marajás indianos e à dinastia dos Romanov da casa imperial russa. O Brasil possui a segunda maior frota de jatos executivos e a maior frota de helicópteros do mundo.
O assassinato de trabalhadores rurais e militantes ambientais em pleno século XXI é um ato hediondo que viola todas as premissas dos direitos humanos. Uma nação democrática não pode permitir através de seus poderes constituídos, que uma minoria com idéias medievais e colonialistas, impeça a instauração e a consolidação da cidadania e da justiça social em nossa nação. É inadmissível que a senadora Kátia Abreu (presidente da Confederação Nacional da Agricultura - CNA), eleita pelo voto direto do povo, se volte contra ele de maneira arrogante e enfática, como uma Maria Antonieta dos trópicos.
A Comissão Pastoral da Terra - CPT aponta que no estado do Pará, desde 1996, foram cometidos mais de 200 assassinatos de lideranças rurais ocasionadas por conflito de terras. Que vergonha!!!!
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