Não há dúvida que a eleição de Barack Obama foi um bálsamo e uma esperança para a distensão da política externa estadunidense. Porém, o que pudemos comprovar até o momento, foram passos tímidos em relação a temas cruciais que vão da agenda ambiental aos direitos humanos que têm como principal libelo acusatório a manutenção dos presos em Guantánamo; o irracional bloqueio a Cuba; a guerra do Iraque baseada em provas inexistentes; o massacre de civis no Afeganistão e o absurdo silêncio quase sexagenário da invasão chinesa ao Tibete. Falando em Direitos Humanos, vale a pena lembrar que os EUA ainda executam prisioneiros no chamado ‘corredor da morte’ com injeções letais e na cadeira elétrica. Na Líbia, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, o interesse é similar ao do Iraque e a queda da dinastia Kadafhi é questão de tempo. No levante popular do Egito, por onde passa grande parte da economia árabe, inclusive o petróleo, através do Canal de Suez, os EUA só assumiram posição pró-rebelião popular ao saber do quadro irreversível da queda de Hosni Mubarak. Nossos irmãos do norte também continuam em débito com a humanidade ao negarem enfaticamente a assinatura do Protocolo de Kioto, que prevê a redução da emissão de gases do efeito estufa em, no mínimo, 5,2% no período entre 2008 e 2012, triste herança da Era Bush. Em relação à viagem pela América do Sul, sabemos que essa parte do continente nunca foi prioridade para a política externa dos EUA. Os novos cenários descortinados no Brasil, que têm a China como seu principal parceiro econômico, acenam com a licitação de caças para a FAB, energia nova através da exploração do pré-sal e investimentos em infraestrutura com a preparação da Copa de 2014 e Olimpíadas 2016. No complexo mosaico das relações econômicas bilaterais, o Brasil perde longe, com um déficit na balança comercial com os EUA da ordem de US$ 8 bilhões, o maior déficit comercial brasileiro. Por um outro lado, proporciona o maior superávit comercial aos Estados Unidos em relação a todos os países do mundo O que podemos esperar da visita de Obama? No campo das contendas comerciais Obama dificilmente reverterá no congresso estadunidense os subsídios agrícolas que de forma deletéria impedem a alavancagem do agribusiness nos países em desenvolvimento, principalmente os do etanol, que tanto interessa ao Brasil. Existem impeditivos reais como as barreiras tarifárias, não-tarifárias, quotas, proibições, restrições voluntárias de exportações, barreiras técnicas (relacionadas com regras de licenciamento, embalagens, volumes, ingredientes, rotulagem). Mecanismos de defesa comercial como o antidumping, direitos compensatórios e salvaguardas que são regras usuais do comércio internacional e podem afetar o acesso aos mercados. São cerca de 10 mil posições tarifárias e 144 países envolvidos na Organização Mundial de Comércio. Pendências históricas como a do algodão, medicamentos, alimentos e indústria aeronáutica, permeiam uma relação conflituosa entre os dois países. Nada que se consiga flexibilizar de um momento para o outro. Talvez a pretensão obsessiva do Itamaraty em ascender ao Conselho de Segurança da ONU seja um atrativo secundário da visita. Algo como os espelhinhos que os portugueses ofereciam aos indígenas ao aqui desembarcarem. Artifício que infla os brios nacionais e eleva nossa auto-estima em relação ao tabuleiro estratégico global. Nos Alagados, Vigário Geral ou Jardim Irene, ninguém entende para que serve o significado do assento na ONU, se não há saúde, emprego e educação de qualidade para o povo da periferia. Noves fora, e o desejo dos EUA em 'retirar' a Presidente Dilma do campo de ideologização de Lula na política externa, não se consegue visualizar um objetivo prático em visita tão pomposa e cercada de salamaleques. Aspas para a simpática visita à Cidade de Deus, onde 62% dos moradores são negros e para uma cinematográfica ida ao Cristo Redentor. Ademais, nada mais. Fica como exemplo, para a elite nacional que a origem e a cor da pele não são condicionantes para se ascender às mega estruturas de poder e que a democracia e a justiça social, podem estar em melhores mãos, quando se constroem oportunidades iguais para os grupos étnico-raciais que compõem a diversidade da espécie humana. Na verdade, a grande comemoração no Rio foi a transferência do discurso do ilustre visitante, que seria em praça pública, para um exclusivíssimo e disputado convescote no Teatro Municipal. Com a Cinelândia livre do fechamento sintomático por parte da neurótica segurança de Obama, os cariocas puderam tomar seus chopes sossegados no Bar Amarelinho, tradicional espaço de encontros etílico-político-poéticos, que reina impávido naquele pedaço do Rio de Janeiro.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
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