Amauri Queiroz

terça-feira, 8 de junho de 2010


Futebol e Política - Gente Humilde, Medos e Esperanças.

O presidente da república e o técnico da seleção brasileira de futebol possuem algumas coisas em comum: têm em suas mãos as alegrias e angústias de uma nação. São responsáveis pelo orgulho nacional e pela manutenção do fim da “síndrome de vira-latas”, pecha criada e sentenciada no passado pelo teatrólogo Nelson Rodrigues. Tanto Lula quanto Dunga emergiram da esperança popular de se viver em um país menos amargurado.

Lula, renitente, amargou três derrotas consecutivas, sendo que todas elas eram lutas desiguais. A primeira, contra Fernando Collor de Mello, o “Caçador de Marajás”, um jovem dandi das alagoas, que surgiu como um super-herói justiceiro. A única salvação para um país mergulhado na corrupção e nas atitudes anti-republicanas. O noviço e dinâmico Collor de Mello foi a “arma letal” que a arcaica elite brasileira engendrou para derrotar as lutas populares e os movimentos sociais, origem e berço histórico de Lula.

Candidato “fabricado” pelo ainda incipiente marketing político tupiniquim, Collor de Mello caiu como uma luva nos dedos manipuladores da fábrica de fantoches políticos que é a grande mídia nacional. O povo estava tão envolvido pelo canto de sereia midiático, que até concordou e acreditou que o herdeiro do império Arnon de Mello não tinha recursos financeiros para adquirir um aparelho de som comumente utilizado pelas camadas populares. Fato risível veiculado nos estertores do debate eleitoral, juntamente com acusações de prática de indução ao aborto, ataques pessoais e maquiavelismos típicos da sórdida política coronelista.

A segunda derrota foi mais emblemática. O adversário não era mais o caçador de marajás e sim o grande intelectual, incensado nas maiores universidades do planeta. Herdeiro do Plano Real do mineiro Itamar Franco e dos salamaleques de grande parte da mídia e das elites brasileiras, viúvas de Collor. Mais uma luta titânica para o humilde operário nordestino, filho de mãe analfabeta, com a alma moldada no chão das fábricas, nos tornos e fresas das montadoras do ABC. Fernando Henrique Cardoso derrotou Lula na primeira e na segunda eleição, a da reeleição.

Lula parecia fadado aos compêndios e tomos do passado da história política do Brasil, como um ousado brasileiro que veio para São Paulo da longíngua Garanhuns, cidade nascida da luta quilombola, para tentar governar uma nação-continente como o Brasil.

Disse Euclides da Cunha em “Os Sertões” que “o sertanejo é antes e tudo um forte”. E Lula mais uma vez, calejado pelos açoites políticos, pelas infindáveis andanças pelo Brasil e sabedor que o povo não vive de láurea e desenvolvimento econômico e sim de bem-estar, mergulhou em mais uma campanha pela presidência da nação, aquela em que podemos afirmar que a esperança venceu o medo.

O Brasil mais uma vez assistia abismado a ascensão de um novo presidente onde, para os alarmistas de plantão, o futuro era excitante e ao mesmo tempo apavorante. As bolsas despencaram, os investidores desapareceram e a mídia permanecia catatônica com a onda popular e cívica que permeou a campanha e a vitória de Lula.

Oito anos se passaram e a esperança se renova novamente. O menino sonhador, filho de Dona Lindu, agora incensado pelos maiores líderes do planeta, pela sua luta contra a fome, pelo seu esforço hercúleo em prol da cidadania, dorme em berço esplêndido. Calejado pelas insídias das entranhas da política, imunizado contra o veneno destilado pelos inconformados por um pobre governar o Brasil com uma qualidade nunca vista, Lula nos orgulha, ao mostrar aos nossos filhos e netos, que o Brasil pode ser governado por qualquer brasileiro comum. Que aquela criança que estuda em qualquer escola pública do país, poderá um dia governá-lo. Obrigado, Lula.

Dunga também simboliza o “esforço de Sísifo” que é contentar 190 milhões de brasileiros com a escolha de 11 atletas que simbolizarão a pátria de chuteiras. Visto como solução para a tragédia grega de Wiggs, Dunga também é olhado com desconfiança por parte da mídia e da população. Substuto de Parreira, intelectual, pintor, frequentador da elite nacional, Dunga parece antever o que lhe espera caso não saia vitorioso na África. Espero, que se banhe na mesma fonte que Lula e se espelhe no grande “condottieri garanhuense”, mostrando da África para o mundo que a esperança no Brasil sempre vencerá o medo.

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